Como atuar em uma empresa em crise?

Até as gigantes passam por momentos difíceis e essa matéria ajuda muito a entender como se posicionar e agir para que sua equipe ganhe fôlego.


São Paulo - As últimas previsões do boletim Focus, elaborado pelo Banco Central, mostram que economistas e analistas de mercado projetam um crescimento de 1,44% para a economia brasileira em 2014. A previsão já foi melhor e dá uma ideia de que o ano não está sendo bom para muitas empresas.
Tome-se como exemplo a Petrobras, a maior de todas. A estatal anunciou que deve eliminar 4.500 postos de trabalho até o fim deste ano — hoje tem 65.000 funcionários. A saída faz parte de um plano de demissão voluntária ao qual já aderiram mais de 8 000 empregados — ou 12% do total.
O objetivo da empresa é reduzir custos, estimados em 13 bilhões de reais, nos próximos quatro anos. Crises atingem a maioria das companhias, seja por problemas ligados à má gestão, seja por instabilidades na economia.
Um cenário instável produz alterações profundas no dia a dia de uma empresa e afeta objetivos de carreira de seus funcionários. É preciso tomar medidas para enfrentar essas situações da melhor maneira possível.
Mal da fofoca
Quando não há informação transparente sobre os rumos do negócio, os boatos invadem os corredores. Tudo vira motivo de especulação. A fofoca ajuda a informar, mas aumenta a insegurança.
“Se o profissional tiver alguma dúvida, melhor conversar francamente com o chefe”, afirma Mônica Ramos, diretora da LHH|DBM, consultoria de recolocação de São Paulo. Essa é a forma de não se contaminar com informações falsas. “Gastar energia com boatos pode tirar o foco do trabalho”, diz. Assuma também a responsabilidade de não passar rumores adiante.
Paralisia da produção
O clima de tensão provocado por demissões interfere na produtividade dos que sobrevivem ao corte de pessoal. Mas se deixar consumir pelo desânimo só vai prejudicar o rendimento. A melhor atitude é ajudar o negócio a se recuperar. “O profissional que se torna improdutivo passa a ser questionado”, afirma Adriana Prates, da Dasein, empresa de busca de executivos de Belo Horizonte.
Concentre-se nas tarefas e faça seu trabalho. Revise constantemente seu desempenho. Tente cumprir as metas dentro do prazo. Peça ajuda se for o caso. Não espere o chefe cobrar.
Depressão pós-corte
Quando uma empresa promove demissões, ela rompe o contrato de confiança que havia estabelecido com os funcionários. Cria-se uma suspeita de que novos cortes vão ocorrer, o que deteriora o clima de trabalho. Os que ficam se decepcionam com a decisão da empresa e temem perder o emprego. Como evitar que o baixo-astral paralise suas ações?
A recomendação é reagir e fazer um esforço de ver o lado positivo. Haverá muita gente reclamando e lamentando e é difícil resistir ao clima ruim.
“O profissional precisa superar os receios e mostrar o quanto é capaz de seguir em frente”, diz Beatriz Pacheco, sócia da Plongê, consultoria de RH de São Paulo. Aqueles que souberem aproveitar o momento para demonstrar iniciativa e liderança tendem a conquistar mais espaço.
Vício em tensão
A pressão por resultados leva profissionais a cometer excessos, como longas jornadas, descuido com a alimentação e poucas horas de sono. Receber e repassar a tensão vira um hábito viciante. Quem não se cuida tem a saúde invadida pelo trabalho. “As pessoas costumam transformar a crise profissional em crise de vida”, diz o coach Silvio Celestino, de São Paulo.
Praticar atividades físicas e sair com amigos ajuda a tirar a cabeça do trabalho. “Encontrar uma válvula de escape é importante para manter o equilíbrio e a aliviar a tensão”, diz a professora Elza Veloso, da Fundação Instituto de Administração (FIA), escola de administração de São Paulo. Definir prioridades e negociar prazos também ajuda a aliviar a sobrecarga de atividades.
Síndrome da competição
Em uma empresa onde as pessoas trabalham sob a ameaça de perder o emprego, os instintos de sobrevivência ficam aguçados. Aumentam o individualismo e a competição. É preciso resistir a entrar nesse jogo. “Empresas detestam essa situação e valorizam os que contribuem para melhorar o clima”, diz a headhunter Adriana Prates, da Dasein, empresa de busca de executivos de Belo Horizonte.
A estratégia é ficar atento a fatores que levam à competição: provocações, atitudes egoístas, críticas de colegas e puxadas de tapete. Quando presenciar um desses movimentos, é preciso agir positivamente. “Ajudar a criar um ambiente de cooperação e colaboração, estabelecendo parcerias, vai minar atitudes de quem tenta desestabilizar ou prejudicar os colegas”, afirma Adriana.
Surto de fuga
Cair fora é uma reação comum de quem se vê numa empresa em crise. Mas há fatores a considerar antes de uma decisão drástica. Um deles é analisar se a empresa, mesmo em crise, oferece alguma perspectiva de crescimento. Se não houver nada de interessante em vista, a saída deve ser considerada.
“Quando não há perspectivas de futuro e a pessoa sente que está estagnada, o melhor caminho é aproveitar o momento para arriscar algo novo”, afirma o coach Silvio Celestino, de São Paulo. Uma empresa em crise pode ser útil como fonte de aprendizado, algo que talvez reduza a vontade de ir embora.
“Um ambiente turbulento ajuda a desenvolver novas competências, como capacidade de se adaptar e de lidar com a pressão”, diz o coach Alexandre Marins, da LHH|DBM, consultoria de recolocação de São Paulo. Antes de tomar qualquer decisão, é preciso avaliar muito bem a situação real da empresa.

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