O que vi de uma crise


Trabalhando no mercado financeiro já há mais de 15 anos e tendo a oportunidade de atender sempre clientes de diversos volumes de investimentos, mas, principalmente, com distintos perfis psicológicos, pude perceber o quanto o “efeito manada” influencia a vida das pessoas e a irracionalidade financeira se sobrepõe.
Neste período, venho sendo “agraciada” por diversas crises, a mais recente foi a da economia americana que, por consequência, afetou a Europa que teve o ápice em 2008. Desde esta época, pude perceber a incrível mudança de perfil que meus clientes sofriam. Aqueles que tinham um discurso onde aceitavam um pouco de risco em sua carteira, me procuravam amedrontados, se desfazendo irracionalmente de suas posições para aplicações conservadoras. A maioria procurava por investimentos em instituições de grande porte, mesmo que aquela aplicação não remunerasse tão bem quanto a anterior. Naquele momento, a crise vivida era de confiança institucional, total desconfiança nos bancos. Como um gigante, como os EUA poderiam passar por tamanha dificuldade? Seus maiores bancos estavam sob forte desconfiança, alguns chegaram a quebrar.
São nestes momentos de total falta de racionalidade que erros são cometidos. Erros feitos por qualquer pessoa seja ela conhecedora do mercado financeiro, ciente que não é o momento para vender aquele investimento, quanto para o leigo que vê a notícia na TV sem muita explicação clara, que toma decisão pelo que consegue perceber. Numa situação de racionalidade, de calmaria, uma pessoa não venderia seu bem no momento que está menos valorizado, a não ser que realmente necessite de dinheiro. Pois esta era a decisão que eu via meus clientes tomando, mesmo que isto incorresse em custo com maiores alíquotas de imposto de renda a serem pagas.
Confesso que muitas vezes também perdi a confiança que a situação iria melhorar, que sobreviveríamos àquele terrível 15 de setembro de 2008, o dia em que o banco Lehman Brothers quebrou. Foi um dia histórico para a economia mundial. Lembro, inclusive, do clima frio e chuvoso daquela segunda-feira. Trabalhava num banco que estava no olho do furação, foi bem difícil... Mas, dia após dia, buscando em meio ao caos trazer alguma racionalidade aos clientes, orientando que era difícil, volátil, até incerto, mas NÃO era o fim do mundo, os meses foram seguindo...
No ano seguinte, em 2009, a bolsa de valores no Brasil rendeu incríveis 82,6%! Foi o melhor investimento daquele ano. Para os clientes que, apesar do perfil investidor e dispostos a correr mais risco, optaram por investimentos mais conservadores como CDB, que acompanha a taxa de juros, receberam 9,88%, sem descontar imposto de renda, isto equivalente a 100% do CDI. Quem optou pela poupança recebeu 6,33%. Naquele ano, a inflação estava abaixo da meta e fechou em 4,31%. Ah, olhando agora, até eram bons tempos...
Atualmente, estamos com uma baita crise em casa. Sabemos que está cada dia pior e mais perto de nós, mas nem todos nós somos afetados na mesma proporção. Eu, por exemplo, desde 2013 já sinto no mercado financeiro os impactos dela, a maioria da população só agora. Quem conseguiu se prevenir, fazendo um planejamento, orçando suas despesas e receitas passará melhor pela crise do que alguém que ainda não se deu conta que ela está bastante intensa.
Escrevo este texto um dia após o país receber o rebaixamento de seu grau de investimento. Ou seja, o mercado internacional não nos vê como bons pagadores, estamos com a nossa credibilidade abalada. Já fiquei bem triste com esta notícia ontem, com a sensação de estarmos num jogo e termos que voltar várias casas... Mas vida que segue, e é para frente que devemos andar...E confiar que seremos capazes de voltarmos a ter o selo de bons pagadores.
Como num resfriado que começamos com um espirro e evolui para a famosa virose e sabemos que o corpo tem anticorpos para reagir. Neste período, cabe a nós nos hidratarmos e nos alimentarmos melhor. Assim, acredito que todos nós que desejamos um país melhor, possamos fazer: vamos seguir com os nossos projetos, avaliar os riscos, com prudência. Mas não desistirmos. Nada de inércia! “Nem tanto ao mar, e nem tanto a terra.” Não digo que precisa ir para a Bolsa de Valores e nem ir para a poupança. Em 2009, quem teve uma carteira diversificada, com um pouco em cada investimento também obteve bons resultados.

Se enquanto uns choram, outros vendem lenços.  Então vamos todos vender lenços, meu povo!


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